terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

extinção

sim, nestes ecos
- sinestésicos -
de fel e hematoma,

os animais sem ânimo,
as flores em coma.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Enfim...

... acordou assustado no meio da madrugada. Não, não ouviu nenhum barulho estranho e ninguém havia entrado na casa. Estranhos e frequentes eram os seus pesadelos. Mas as noites não eram piores que os seus dias: Vital não conservava empregos, perdera o último há dois anos e, talvez por isso, viu sua família desfeita. Sua mulher foi embora: voltou a morar com os pais. Levou os filhos – havia meses que não os via! – Entristeceu... bebia para esquecer os problemas e para criar outros, embora negasse o primeiro motivo e estranhasse o segundo. Definhava. Outro dia, levantou cedo, bebeu para curar a ressaca. Passou-lhe pelo pensamento procurar emprego e saiu, alcoolicamente decidido. Fechou a porta, certo de que a tinha trancado, e alcançou a alameda Esperança. Olhou para os dois lados e não percebeu movimento. Deu alguns passos e ouviu um barulho distante – pneus freando, talvez –, olhou na direção do ruído incômodo e viu de perto o vulto de um carro, que lhe estancou a fonte dos problemas. Não, o filme de sua vida não lhe passou pela cabeça. Não houve tempo.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Igual, mas diferente...

"Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considere a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos."
Carlos Drummond de Andrade
.

É carnaval no Brasil:
luzes cortam o céu;
agitação nas ruas;
multidão febril;
corpos ardentes;
emoções intensas;
delírio regado a suor.

Não é carnaval na Faixa de Gaza,
mas a descrição é a mesma.