quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Enfim...

... acordou assustado no meio da madrugada. Não, não ouviu nenhum barulho estranho e ninguém havia entrado na casa. Estranhos e frequentes eram os seus pesadelos. Mas as noites não eram piores que os seus dias: Vital não conservava empregos, perdera o último há dois anos e, talvez por isso, viu sua família desfeita. Sua mulher foi embora: voltou a morar com os pais. Levou os filhos – havia meses que não os via! – Entristeceu... bebia para esquecer os problemas e para criar outros, embora negasse o primeiro motivo e estranhasse o segundo. Definhava. Outro dia, levantou cedo, bebeu para curar a ressaca. Passou-lhe pelo pensamento procurar emprego e saiu, alcoolicamente decidido. Fechou a porta, certo de que a tinha trancado, e alcançou a alameda Esperança. Olhou para os dois lados e não percebeu movimento. Deu alguns passos e ouviu um barulho distante – pneus freando, talvez –, olhou na direção do ruído incômodo e viu de perto o vulto de um carro, que lhe estancou a fonte dos problemas. Não, o filme de sua vida não lhe passou pela cabeça. Não houve tempo.

3 comentários:

Túlio Campos disse...

Decidido estava quando decidiu escrever este. Magnífico curta!

Marcelino disse...

Curto e GROSSO (rsrsrs)um final excelente para este teu con(r)to. Gostei muito.Parabéns!

Anônimo disse...

E de quem é a culpa dessa morte? Ora essa, do motorista do carro: estava em alta velocidade; não deu nem tempo do filme da vida do bêbado passar por sua cabeça.

Cômico, não fosse trágico.