_____Carlos terminou seu curso e, ainda cardiologista recém-formado, conquistou respeito pelo profissionalismo e pelo trabalho comunitário que realizava nos bairros pobres da cidade.
_____Pedro também se destacava pelos sacrifícios, viajava de 13 a 15 horas por dia e sempre entregava a carga com antecedência. Mantinha-se acordado (acreditava nisso), durante as viagens, à custa de drogas – aprendeu com alguns companheiros –, mas depois de apenas três anos já recebia o maior salário entre os motoristas e era, sem dúvida, o preferido para os fretes mais importantes.
_____Carlos e Pedro não se viam há muitos anos, desde o baile de formatura, quando ainda tinham 17 anos de idade, mas se encontraram na estrada, antiga BR-28. Carlos voltava de um Congresso, e Pedro carregava uma carga importante para a empresa. Eram duas horas da tarde, Carlos preferiu não almoçar – almoçaria em casa –; Pedro tinha almoçado bem e seguia viagem. Carlos acelerou seu carro, concentrou-se na pista, que estava tranquila e pouco movimentada. O trecho de poucas curvas, o sol, o almoço e o cansaço se apoiaram nas pálpebras de Pedro, que dormiu ao volante. A carreta desgovernou-se, dobrada em L, e fechou a rodovia. Carlos não teve tempo de se desviar. O impacto, que fez Pedro – no meio do caminho – recobrar a consciência, fez Carlos perder a sua, definitivamente.
_____Dizem que do destino não se foge. Deve ser verdade.