terça-feira, 5 de julho de 2011

Ovo do desperdício

Poema inspirado na genialidade poética de
João Cabral de Melo Neto  e de Marcelino Pan y Vino
Um ovo assim em coletivo,
ao lado de outros e de lado,
por tempo em demasia, receoso,
ao canto, que o bem desejado.

O ser que é tão vivo, não morto,
e antes, e morno, e imaculado,
agora com vida em processo
de morte – o ovo, desanimado.

O tempo no tempo se perde
o ovo maciço, o de encaixado.
Em seu seio de ser, de alimento,
– mortalmente – deteriorado.

Este ovo, em goro, já não cumpre
duas sinas – de ser destinado:
um, sem vida, ovo de não-ser;
e outro ser – de fome – colmado.

2 comentários:

Marcelino disse...

Curtt, João Cabral fala do ovo, de sua estrutura, e, no final do poema, lembra que o ovo tem vida, a vida que virá; você foi mais além e lembrou da fome que inspira o ovo. Nese sentido, você acresceu um elemento muito presente na poética cabralina: o homem. O elemento humano está sempre presente na literatura da geração de 45. Você retoma, não só neste mas em outros textos teus, essa dimensão da poesia.

Dona Maria disse...

Curtt!

Críticas construtivas são sempre bem vindas, ainda mais quando se trata de alguém que não tem muita experiência assim no assunto. Haha

Vou criar o hábito de reler os meus "textos" e tentar associá-los às suas aulas de interpretação.

E obrigada pelo elogio!
beijos.