_____Em 31 de dezembro de 2008, pela manhã, o professor de português, purista e conservador – daqueles que exigem pingo em “j” (como esse!) –, entrou em um hipermercado e se deparou, bem à porta, com uma lista de produtos. Na lista, linguiça. Desse jeito, despudoradamente sem trema, transgressora e desrespeitosa. Torceu o nariz, tomou-o de sobressalto o desassossego, fez sua compra indignado, a imagem daquela mutilação gráfica sobrepunha-se a tudo e não o deixava. “A língua portuguesa é um dos nossos símbolos nacionais, um santuário, é unidade cultural manifesta, maltratá-la é maltratar-se”, pensava em mais um arrebatamento intolerante.
_____Mas o tempo é remédio para todos os males e arrefeceu-lhe os ânimos. Esqueceu-o a intolerância.
_____Mas o tempo é remédio para todos os males e arrefeceu-lhe os ânimos. Esqueceu-o a intolerância.
_____No dia seguinte, precisou voltar ao hipermercado – o mesmo do ano anterior – e encontrou-o aberto. À porta, a mesma lista de produtos. Na lista, linguiça. Assim mesmo, sem trema, como reza o novo acordo ortográfico. Sentiu-se bem, caminhou tranquilo, e sorriu realizado, convicto de que às vezes, sim, a montanha vai a Maomé.
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