sábado, 16 de maio de 2009

Náusea

_____Sozinho em sua cobertura, olhava pela janela. Sentia-se senhor de todas as coisas e de todos os seres. Deputado federal por dois mandatos e agora senador, sabia que era bem sucedido. Nunca poupara esforços para conquistar o sucesso. À procura de sua própria felicidade, trapaceou, subornou, explorou informações privilegiadas, licitações ilícitas, negociações escusas:
_____─ Nunca poupara esforços! - dizia a si mesmo, orgulhoso de seu império.
_____Serviu-se de mais uma taça de vinho... esticou-se em sua poltrona... tomado de languidez... sorriu confiante e um mal-estar súbito acometeu-o! Levantou-se de sobressalto, atordoado, a taça caiu-lhe da mão, uma sensação estranha tomava conta do seu corpo, das suas entranhas, sentia-se angustiado, um aperto no peito sufocava-o, o ar faltava-lhe, suava frio mas sentia-se febril, uma palidez extrema, ondas de náusea se intensificavam, uma tosse agressiva acentuava o seu mal-estar, sentia o coração na garganta e pressentiu o vômito, que jorrou viscoso, pustulento, fétido, impregnado de toda uma vida pública corrupta. O jorro não cessava, o líquido encorpado por toda sorte de crimes pestilentos amargava-lhe a boca e impedia-lhe a respiração. Caiu prostrado sobre a poltrona e, em seu torpor, conseguiu enfim fechar os olhos...
_____Sentiu-se estranho... um sentimento de cidadania... uma angústia...
_____
_____Abriu os olhos... tomado de languidez... e viu a taça em sua mão... levantou atordoado e reconheceu, com alívio, seu império intacto...
_____Sorriu confiante e serviu-se de mais vinho...
_____A náusea não passara de um sonho ruim.

2 comentários:

Curtt disse...

Pan y Vino: li esse texto pelo menos umas dez vezes e não havia percebido que a concordância estava apenas na minha cabeça, não no texto. Por isso o olhar atento e a crítica do outro são sempre bem-vindos.

Não Estou Lá disse...

kkkk

muito boa, o sujeito teve um ataque de cidadania!!!