sábado, 9 de maio de 2009

Monodiálogos

_____Trabalham juntos na mesma empresa, mas em departamentos diferentes. Um dia desses se encontraram durante o horário do café:

_____Ele: ─ Nossa! Como o café está amargo!
_____Ela: ─ Acho que eu nem deveria ter vindo hoje. Minha semana começou mal.
_____Ele: ─ Desde que mandaram a copeira embora e entrou essa funcionária nova, o café não é a mesma coisa.
_____Ela: ─ Acordei péssima... uma dor de cabeça terrível. Será que foi a discussão ontem à noite?
_____Ele: ─ Todos elogiavam a dona Maria... mesmo assim ela foi demitida. Agora sou obrigado a suportar este café insuportável.
_____Ela: ─ A discussão começou por causa de um mal entendido. Meu noivo reclamava de algo sobre eu não lhe dar atenção... não tenho certeza... mas parece-me estranho: sempre acreditei no diálogo.
_____Ele: ─ Nem sei por que fazem pesquisas nesta empresa. Parece que a opinião dos funcionários não tem valor nenhum. Você não concorda?
_____Ela: ─ Sempre ouvi o meu noivo, sempre lhe dei atenção... e agora isso...
_____Ele: ─ Eu já me cansei de dar sugestões, mas ninguém me ouve. Parece que cada um vive em seu próprio mundo.
_____Chega um terceiro funcionário.
_____Ela: ─ Assim que chegar em casa, vou ligar para o meu noivo. Quero tudo em pratos limpos... ele vai ter que me explicar direitinho...
_____Ele: ─ Quer saber? Se fizerem outra pesquisa, vou responder de qualquer jeito. Não nos dão atenção mesmo...
_____O outro: ─ Vocês viram o futebol, ontem. Que jogaço! Se meu time continuar jogando assim, vai ser campeão...
_____Ele: ─ Preciso voltar para o serviço. Alguém aqui tem de trabalhar...
_____O outro: ─ O Roballo é craque, é liso... vai ser artilheiro do campeonato. Ouçam o que estou dizendo...
_____Ela: ─ Será que ninguém reparou que esse café está amargo?!

3 comentários:

Marcelino disse...

É a realidade cáustica desse mundo-cão, em que as pessoas apenas se toleram, virando literatura, ou então a literatura nos servindo de espelho mágico que alcança a nossa reflexão sobre essas situações que às vezes passam intactas pela nossa percepção, mas não pela do poeta, este compreende e nos faz compreender. Muito bom.

, disse...

pode repetir por favor?

Arth Silva disse...

é incrivel o quanto o Curtt é ecletico em seus trabalhos literarios

certo dia esta eu conversando com o cara falando que ele faz o que quer com as letras, comentando que ele ja tinha escrito no estilo dos grandes como Machado de Assis,Augusto dos anjos,Castro Alves, Carlos Drumond e tambem como os pequenos, no dia em que fez "Vingança" escreveu no meu estilo (hehe)

ai ele me fala:
- Eu quero ainda fazer um texto só com dialogos, esse eu nunca fiz..

no outro dia eu abro o blog e vejo esse conto aqui, so como dialogos e genial...

P#$%! P@R!# o cara faz o que quer com o texto.escreve no estilo que quizer!

Currt é o melhor dos escritores anonimos que conheço